Meu canário me diz no seu trinado A razão que eu sou é amargosa Minha vida no prado foi garbosa Fui feliz quando vivia no prado Sem motivo estou engaiolado Vivo preso sem ter necessidade Ninguém pense que eu canto por bondade É protesto que sai dessa cachola Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade Por que é meu Jesus que o homem faz Grosseria com a fauna e com a flora Envenena, derruba e explora Pássaro, peixe, as plantas e os animais Faz assim sem sequer olhar pra trás Não tá certa tremenda crueldade Quando Deus aplicar sua vontade Quem pratica maldade vai pra sombra Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade Quando eu lanço a palavra passarinho Não me encaro a plumagem asa e o bico Me refiro à maldade de uns rico Que não quer ver o pobre em seu caminho Se pudesse era pra eles sozinho A riqueza do mato e da cidade Pensa sempre em mais propriedade Conseguida na mira da pistola Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade Quando o homem entender que se envenena Com o veneno que envenena o mundo Já está em um poço tão profundo Que ninguém nem lhe vê para ter pena Quem souber quanto a vida é pequena Da usina vazia da ruindade Arrependa a gaiola da maldade Pega o manto do amor e se enrola Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade Se a floresta falasse pediria Para o homem apagar uma queimada Suspender sua serra afiada Que destroi toda mata que Deus cria As abelhas se mudam todo dia Exterminam as espécies por maldade Com a fauna é outra barbaridade O que sobra do tiro o fogo enrola Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade Troque a sua espoleta numa rosa Jogue fora suas balas dum dum Troque o seu três oitão num jerimum Para a vida ficar maravilhosa Solte a ave canora e maviosa Que está num viveiro atrás da grade Que no mundo terrível da maldade Taça cheia de amor é a bitola Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade Sabiá protestando está parado Rouxinol vive triste sem cantar Gavião não se vê mais penerá Tangará se existe está calado Assum preto e em assero de roçado Escutar sua voz é novidade Quando o homem entender que faz maldade Vai pedir o perdão como uma esmola Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade Chico Mendes foi morto sem motivo Quem matou por enquanto dá risada Mas a mão de Jesus tá estirada Mas não é pra pegar em mão de vivo Tanto rio que hoje está cativo Tanta falta de água na cidade Deus se zanga e manda tempestade Que até carro de presidente atola Passarinho cantador não quer gaiola Quem trabalha precisa liberdade