Mortifera

Ciel Brouillé

Mortifera


On dirait ton regard d'une vapeur couvert ;
Ton oeil mystérieux (est-il bleu, gris ou vert ?)
Alternativement tendre, rêveur, cruel,
Réfléchit l'indolence et la pâleur du ciel.

Tu rappelles ces jours blancs, tièdes et voilés,
Qui font se fondre en pleurs les coeurs ensorcelés,
Quand, agités d'un mal inconnu qui les tord,
Les nerfs trop éveillés raillent l'esprit qui dort.

Tu ressembles parfois à ces beaux horizons
Qu'allument les soleils des brumeuses saisons...
Comme tu resplendis, paysage mouillé
Qu'enflamment les rayons tombant d'un ciel brouillé !

Ô femme dangereuse, ô séduisants climats !
Adorerai-je aussi ta neige et vos frimas,
Et saurai-je tirer de l'implacable hiver
Des plaisirs plus aigus que la glace et le fer ?

Dir-se-ia teu olhar coberto de uma bruma;
Teu olhar misterioso (é azul, verde ou se esfuma?)
Às vezes terno e sonhador, às vezes cruel,
Reflete a palidez e a indolência do céu.

Lembras os dias brancos, mornos e velados,
Que em prantos põem os corações enfeitiçados,
Quando, desperto por torção desconhecida,
Os nervos tensos zombam da alma adormecida.

Não raro imitas essas cores vaporosas
Que fulguram aos sóis das estações brumosas...
Como resplendes, horizonte assim molhado
Quando a flama do sol aquece o céu nublado!

Ó mulher perigosa, ó climas sedutores!
Hei de adorar a tua neve e os teus rigores?
E como arrancarei do inverno em que me enterro
Mais agudo prazer que os do gelo e do ferro?

(Poema escrito por Charles Baudelaire)