Estava sossegado no quarto em meu leito Lembrando os tristes dias de um sonho já desfeito E eis que em furacão chegou aos meus ouvidos Lamentos de um cão em uivos e gemidos Descubro aonde está o pobre animal Nas garras de um vizinho, de um homem bestial! Protesto, grito, minto: Vizinho, o cão é meu! Leve-o, diz-me o homem, mas prove que ele é teu! E guarde, guarde-o bem, e crê que do contrário Em pedacinhos o faço, ladrão, cão ordinário Um cão que vem roubar de um sábio a paciência De um cão, que rouba e come, não tenho mais clemência! Não querendo então passar por mentiroso Tentei levar o cão das garras do maldoso Mas vejo com espanto que o animal protesta Correndo alegre para o sábio lhe fazendo festa Eu disse então ao sábio: Repara que esse cão É mais sábio do que tu e dá-te uma lição! Provou-te grande sábio, que és um Belzebu Que ele é que é o sábio, e que o cão és tu Não dê, ó grande sábio, pancada nesse cão Tal qual esse animal já dei meu coração Fui cão de uma mulher a quem julgava honesta Tratou-me como um cão e eu lhe fazia festa!